quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Querido diário...

 
Hoje vou escrever assim,ao acaso,de acordo com o que me vem a cabeça,meu texto pode parecer meio sem nexo,mas quero ser livre,livre como nos tempos dos diários da minha adolescencia,preenchidos a cada noite,sem reservas.Folhas florais,perfumadas,as vezes cheias de pontos de exclamação expressando esperança,fé,alegria...ás vezes marcadas com caneta borrada pelas lágrimas.Naquele tempo raramente alguém demonstrava interesse em ler meus diários,e nem eu o queria.Uma vez uma colega de classe pediu pra ver durante a aula...leu algumas páginas e disse:''Poxa!Depois você me deixa ler mais?Isto aqui é uma lição de vida!''
  Ah que saudades dos meus diários despretenciosos,sinceros,aliviadores da minha angustia,voz muda das orações embargadas...que saudades dos diários que suportavam minha tpm,minha insegurança com minha aparência,minhas paixonites agudas,tolices   sufocadas,segredadas,de uma moça madura demais para demonstrar fraquezas aos homens e o fazia sem medo as folhas de agenda,quando orar era difícil demais,quase impossível!
 Páginas não lidas que organizavam minha bagunça interna,os furacões,diminuíam os medos,e expulsavam meus fantasmas horrendos...
  Faz de conta que hoje lhe escrevo mais uma página diário...despretenciosa,não lida.Que a Internet não me roube a inocência e a sinceridade ao falar de mim.Que eu me veja livre de pensamentos do tipo:Será que meus textos irão agradar hoje?''...não,não quero agradar,quero existir,quero ser a mesma,quero me esvaziar nas páginas lidas ou não,e depois me encher de fé de novo,de esperança,de planos e sonhos.
  Quero não sentir vergonha ao ter que escrever dos dias ruins,porque eles existem...e quero não ser vangloriosa ao falar dos dias bons,porque graças a Deus eles também existem.
   Ah diário,fique mudo!Seja discreto como nos velhos tempos...se alguém te ler,que aprenda algo,mas algo que não escrevi por desejar ensinar...apenas escrevi por sentir,por ser.
   Não te quero vanglorioso,dissimulado,pré-ensaiado...te quero assim,improvisado,alguém lhe entendendo ou não.Alguém me amando ou virando-me as costas talvez...mas seja o mesmo,ainda que explícito,seja honesto.
  Deus,quando eu lhe escrever,não pense eu na plateia,lembra,eu costumava lhe escrever mesmo quando ninguém nos lia...não me roube a Internet a inocência,sou eu mesma,tua serva,tua pequena,tua filha,tua...só tua.
  Por hoje deu,obrigada por me ouvir querido diário,obrigada Pai,por me ler...que eu nunca me torne escrava dos dons,das letras...minhas reclusões..alguém entenderia?,Minhas lágrimas amargas,alguém enxugaria?Minhas tolices...alguém respeitaria?Além de Ti e das mudas folhas que oram por mim quando minha boca se trava?
  A mesma liberdade pra ser eu...Internet não me roube a inocência!

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